segunda-feira, maio 02, 2005

Aquele do álcool

Na última semana na loja de computadores, enquanto os funcionários montavam meu novo pc, meu avô e eu ficamos conversando com rapaz que estava emitindo a nota fiscal. Papo vai e papo vem ele acabou contando que já foi alcoolatra e, embora não necessite mais, continua freqüentando o AA. Hoje em dia ele vai apenas para ajudar e dar seu depoimento para as pessoas que começam o tratamento. Engraçado foi a nossa reação, ou melhor, a falta dela, quando ele comentou isso como se fosse a coisa mais natural do mundo. Meu avô e eu ficamos sem graça, sem ter o que falar, será que deveríamos dar os parabéns naquela hora ou o quê? Depois de sairmos de lá eu fiquei pensando no quanto a nossa atitude foi, no mínimo, embaraçosa. Por que deveríamos ficar sem ação diante de uma história de uma pessoa que ganhou a luta contra esta doença (termo que o rapaz utilizou para designar a dependência)? Por mais natural e comum que este tipo de coisa possa ser nos dias atuais e a gente afirme que não nos abala, na hora da verdade a nossa reação acaba sendo inesperada. Naquele momento eu achei, no auge da meu “comportamento geral” (como diria Gonzaguinha), que ele falou um pouco demais, que certas coisas não deveriam ser expostas, muito menos para desconhecidos, e que era algo muito íntimo e pessoal, mas como disse antes, após sair de lá e pensar comecei a achar a atitude dele bastante nobre. O que pra gente parece distante e nos deixa desconfortável (nossa tendência é sempre botar panos quentes e fingir que coisas como esta não fazem parte do nosso dia a dia) para ele é sinônimo de vitória. Tipo, ele conseguiu sabe? Para ele é motivo de orgulho ter sobrevivido a isso tudo, um cara que brigava com os pais, que quase terminou um noivado, que tinha tudo para dar errado, dentre vários problemas, mas que hoje é dono de um negócio, independente e vai casar. Por isso não é um “tabu” para ele contar, ele tem orgulho da história dele e contando aos outros ele tem consciência de que ajuda a fazer com que as pessoas, e eu me incluo nisso, consigam enxergar além do que eles vêem e que este tipo de problema existe e pode ocorrer com qualquer um, com aquele morador de rua, com aquele cara que é bem sucedido, com você ou comigo. São certos gestos que às vezes parecem passar despercebidos, mas que no final fazem total diferença e, talvez pela experiência que adquiriu no AA, este cara percebeu isso e conseguiu colocar mais duas pessoas para pensar naquele dia.

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